Já não se morre mais como antigamente – Borges e Pinheiro

JÁ NÃO SE MORRE MAIS COMO ANTIGAMENTE: do ambiente familiar ao hospitalar, um breve histórico da morte.

¹BORGES, José Wicto Pereira;
²PINHEIRO, Nádia Marques Gadelha.

A palavra morte traz consigo muitos atributos e associações. Ao longo dos tempos foi percebida das mais variadas formas, passando de sinônimo de liberdade para condenação irremediável do homem. O morrer sofreu varias mudanças sob o ponto de vista cultural e emocional do homem. Este estudo bibliográfico objetivou traçar um breve histórico da morte, desde a antiguidade até os dias atuais. Os dados históricos foram coletados de livros e revisas cientificas durante o ano de 2006. Os resultados mostraram que nas sociedades primitivas a morte não era personalizada e dava-se como uma intervenção maléfica externa, como um feitiço ou obra de um ancestral que voltou para buscar um membro da comunidade. Nas antigas civilizações buscava-se uma total aproximação da morte e dos mortos. Na Idade Média ela era entendida como a continuidade da vida, a vida e a morte formavam uma amalgama, os rituais fúnebres eram produzidos com muita alegria e a decomposição dos cadáveres era acompanhada com festividades significando que aquele ser estava entrando em harmonia com o cosmos. Na segunda metade do séc XIX se desenvolve uma crise da morte do ocidente cristão em que esta passa a ser rejeitada e ignorada, maximizando-se assim o luto aterrorizante. Essa crise é derivada principalmente do processo de industrialização, no qual o homem passa a ser visto meramente como gerador de lucros para o empregador, levando à morte a conotação de ser o cessar da vida produtiva do indivíduo. Hoje o processo de finitude é percebido com tristeza. Os rituais festivos e coletivos transformaram-se em cerimônias melancólicas dotadas de sentimentos de medo, frustração e pesar. Nesse contexto nasce o hospital destinado a esconder dos olhos da sociedade todas as mazelas do ser humano. Assim, com a mudança de pensar a morte, gradativamente o espaço familiar, onde ela acontecia, foi trocado pelo espaço hospitalar. Essa mudança ocorreu principalmente devido aos avanços tecnológicos da medicina que permitiu ao homem adiar esse acontecimento. Com isso, de um acontecimento natural, compartilhado, a morte passou a ser enfocada como um evento que ocorre predominantemente no contexto hospitalar, remetendo a um morrer solitário, institucionalizado e medicalizado. Em síntese percebemos que como a maior parte dos fenômenos contemporâneos, a morte foi seqüestrada do seu ambiente, da proximidade da família e dos amigos, de sua forma antiga e corriqueira de acontecer para dar-se em ambientes tecnificados e frios das salas de terapia intensiva dos hospitais ou dos serviços de pronto atendimento onde os procedimentos são feitos em escala e longe das pessoas queridas que acompanharam a história daquela vida enquanto ela existiu plenamente.

¹Aluno do Curso de Graduação em Enfermagem (6º Semestre) – Faculdade Integrada da Grande Fortaleza – FGF.
²Odontóloga e Assistente Social, Mestre em Educação em Saúde (UNIFOR), Professor Titular da disciplina de Filosofia, Sociologia e Ética – FGF.