EUTANÁSIA – MORTE DIGNA OU VIDA DIGNA
A morte é a maior certeza na vida de cada ser humano, talvez por isso, seja também o evento mais temido, menos aceito e maior causador de conflitos existenciais.
Diante disso, não surpreende que a eutanásia constitua-se como um tema tão debatido atualmente. O termo origina-se do grego (Eu = boa, thanatos = morte) e foi usado pela primeira vez no século XVII, por Francis Bacon, para designar o ato de minorar o sofrimento de um enfermo através do abreviamento de sua existência.
Segundo a ação do médico a eutanásia classifica-se em:
1) Ativa – uso de drogas ou métodos para abreviar a vida.
2) Passiva – Ortotanásia. Quando se omite o uso de medicamentos ou tecnologia prolongadora da vida.
Segundo a participação do paciente, classifica-se em:
1) Voluntária – o próprio doente a solicita.
2) Involuntária – os familiares ou responsáveis e/ou o próprio Estado decidem.
Usa-se também o termo Distanásia para designar a morte sofrida e prolongada por meios artificiais, constituindo-se má prática da Medicina.
Hoje, quando a morte transferiu-se do lar para os hospitais, fica concentrada nos profissionais de saúde, principalmente médicos e enfermeiros, a responsabilidade pelo cuidado com o moribundo. Como não somos preparados, nem pessoal nem profissionalmente, para lidar com a morte, temos grande dificuldade de ajudar o ser humano que sofre, pois ele remete à nossa própria finitude.
No livro “Sobre a Morte e o Morrer”, da psiquiatra americana Dra. Elizabeth Kubler-Ross, chama atenção o fato de que a maioria dos pacientes terminais entrevistados não pedirem a eutanásia para abreviar o sofrimento físico e sim, sofrimento moral causado pelo abandono e indiferença dos familiares e profissionais da saúde.
Como se vê, o tema é polêmico e necessita de grande amadurecimento por parte da sociedade e dos profissionais de saúde. Antes de lutarmos para legalizar a eutanásia, a boa morte, precisamos lutar para propiciar a todos uma boa vida, digna, onde esteja incluída a educação para encarar os fatos naturais a existência humana.
Precisamos garantir o alimento material e espiritual, respeito e solidariedade às pessoas e quando estivermos diante de uma fatalidade, onde todos os recursos sejam infrutíferos, possamos amparar a pessoa enferma, aliviando suas dores com os inúmeros tratamentos disponíveis, evitando o sofrimento e permitindo-lhes exercer o legítimo direito à vida, como cidadão e como ser humano. Veremos como muito menos decidir-se-ão pela eutanásia e como será grande a melhora na relação médico-paciente e nas relações familiares.
Alzira Alice Rocha Pereira
Médica Cardiologista e Intensivista do Hospital de Messejana e IJF.