Especialistas dizem que o fim de um relacionamento amoroso se assemelha à perda da morte

ESPECIALISTAS DIZEM QUE O FIM DE UM RELACIONAMENTO AMOROSO SE ASSEMELHA À PERDA DA MORTE

Para superar a dor da morte, a sociedade não estabelece limites para o luto. A perda física, para a maioria das pessoas, deve ser vivida com todas as forças, sob risco do pesar mal resolvido não deixar que o indivíduo siga em frente. Não tão respeitada é a dor trazida pelo fim de um relacionamento.Em uma realidade em que o hedonismo é celebrado, chorar por um amor que acaba é, muitas vezes, tachado de perda de tempo. E o enlutado, além de conviver com a certeza de que o ser amado seguiu em frente, tem de encarar um preconceito que aumenta ainda mais sua reclusão.

— Numa sociedade na qual a relação com a morte é marcada por negação, muitas são as situações em que não há o reconhecimento social, que dirá a expressão do pesar. O fim de um relacionamento é uma perda que não é socialmente considerada como significativa, então vivenciar o luto nesse caso pode se tornar mais difícil — garante Adriana Binotto, psicóloga diretora da AB — Clínica de Psicologia e Apoio ao Luto.

Os danos, no entanto, podem ir além dos psicológicos. Pesquisa da Universidade de Harvard apontou que, após a perda de um ente querido por morte, as chances de um infarto ficam 21 vezes maior. Mesmo que a pesquisa tenha sido focada em viúvos, as reações do corpo ao término de um namoro ou um casamento podem ser as mesmas.

— A dor traz sentimentos de raiva, depressão e ansiedade. Essas emoções podem aumentar a frequência cardíaca, a pressão arterial e a coagulação do sangue, o que, por sua vez, aumenta as chances de ter um ataque cardíaco — afirma Elizabeth Mostofsky, uma das pesquisadoras responsáveis pelo estudo.

Os que passam pela sensação de perder um amor — e esses não são poucos — garantem: ela é sim análoga à da morte.

O psicólogo Aroldo Escudeiro, presidente da Rede Nacional de Tanatologia — ciência interdisciplinar que estuda a relação do homem com a própria morte e com a morte do outro —, afirma que, ao envolver amor, qualquer perda é traumática e deve ser respeitada.

— Há sempre uma morte simbólica porque há afeto. A dor é a mesma para todos. O que vai mudar é a rede social que aquela pessoa terá para ajudá-la a se recuperar.

No caso dos relacionamentos amorosos, essa dor não envolve rituais como o enterro, quando há espaços para externar a mágoa. Segundo Aroldo, as frases comuns nesse momento são “Amor se cura com outro” ou “A fila anda”. Só que não anda rapidamente.

— Afeto é algo que demora para se estabelecer. Por isso, esquecer também. Há um apego comum aos costumes rotineiros e esses espaços vazios vão ficar. Não se pode negar o sofrimento — pondera o especialista.

Diferença de gêneros

O luto feminino é o mais romanceado. Aroldo Escudeiro chega a dizer que ele é o luto teórico estudado na academia, tamanha quantidade de relatos. São elas que demonstram os sentimentos e não se furtam em encarar a dor como uma forma de aprendizado. Os homens ainda têm dificuldade de mostrar seu sofrimento e, muitas vezes, o próprio grupo de amigos é quem hostiliza essa situação.

Os passos do luto
O psicólogo Aroldo Escudeiro, presidente da Rede Nacional de Tanatologia, cita quais são as etapas que devem ser vencidas na recuperação da perda de um amor.

Tarefa 1: Aceite a realidade da perda: aceitar a perda leva tempo. Porém, é preciso aceitar que ela existe e que essa realidade vai se impor para que você siga em frente.
Tarefa 2: Elabore a dor da perda: xingue, resmungue, grite, chore, bata a cabeça na parede, fale sobre sua perda. Procure se deixar doer.
Tarefa 3: Mudanças geográficas não vão curar a dor. É preciso saber que sua vida tem de seguir.
Tarefa 4: Recomece a viver para amar no sentido amplo: o importante é sair da relação melhor do que entrou. Afinal, luto não é doença, é um processo com fim.

Maduros sofrem menos?
Pesquisa da Universidade Estadual de Michigan, nos EUA, mostrou que a separação afeta mais a saúde dos jovens. De acordo com a equipe, ao relacionar o estado de mais de mil americanos que estavam em processo de divórcio, foi percebido que aqueles entre os 35 e 41 anos relatavam mais problemas de saúde que os da faixa etária entre 44 e 50 anos. A explicação é que as gerações mais velhas sofrem mais pressão para manter um casamento. Assim, quando se separam, entendem aquilo como uma libertação tardia. Em vez de sofrimento, os mais velhos sentem alívio por terem se livrado de algo que mantinham por imposição social.

Dor de cotovelo musical
Adele, a maior vendedora de discos de 2011, conseguiu sucesso mundial por falar, justamente, do quanto sofreu para superar um ex-namorado. Na música brasileira, há uma infinidade de canções que tocam nos corações quebrados. A Revista fez uma lista daquelas que podem, quem sabe, até ajudar quem precisa elaborar a perda. Ou para quem gosta de uma ótima música triste.

Vento no litoral — Legião Urbana
“Dos nossos planos é que tenho mais saudade
Quando olhávamos juntos
Na mesma direção”

Volta — Lupicínio Rodrigues
“Volta!
Vem viver outra vez ao meu lado!
Não consigo dormir sem teu braço,
Pois meu corpo está acostumado…”

Ronda — Paulo Vanzolini
“Volto pra casa abatida
Desencantada da vida
O sonho alegria me dá
Nele você está”

Ninguém me ama — Antônio Maria
“Ninguém me ama, ninguém me quer
Ninguém me chama de meu amor
A vida passa, e eu sem ninguém
E quem me abraça não me quer bem”

A flor e o espinho — Nelson Cavaquinho
“Tire o seu sorriso do caminho
Que eu quero passar com a minha dor
Hoje pra você eu sou espinho
Espinho não machuca flor”

Eu quero voltar pra você — Roberto Carlos
“Pra ser sincero eu já tentei me enganar
Pensando um dia encontrar outro alguém
E hoje pra ser mais sincero ainda
Como você não há ninguém”

Balada da Arrasada — Ângela Rô Rô
“Arrasada, acabada, maltratada, torturada
Desprezada, liquidada, sem estrada pra fugir
Tenho pena da pequena que no amor foi se iludir
Tadinha dela…
Tadinha dela…”

Ouça — Maysa
“Ouça, vá viver
Sua vida com outro bem
Hoje eu já cansei
De pra você não ser ninguém”

Fonte: http://www.temnacidade.net/mulher/?p=157

Disponível em: 05/03/2012