Imortalidade da alma como chave Tanatológica – Sonia Sirtoli Färber

Imortalidade da alma como chave Tanatológica
Publicado no caderno Variedades – Jornal “O Paraná” de 11/06/2009

Existe uma razão de a morte acontecer? Por que morrer dessa forma e não de outra? Não deveriam todos morrer com a mesma idade; por que uns morrem em idade avançada e outros não? É possível viver para sempre?

Questões como essas, e muitas outras, acompanham a humanidade desde sempre. O enigma, do evento morte e do ato de morrer, acompanha a vida de todos os homens, mas muitos, senão a maioria, fazem do curso de seus dias um constante agir com vista em um futuro histórico, sem considerar a possibilidade de morrer.

A verdade é que a morte é de interesse universal, porque atinge todas as pessoas e, ainda que tente, ninguém viverá para sempre nesta forma de vida presente. Na literatura, de várias formas, é apresentada a reflexão sobre esta postura, adotada pelos que pensam na morte como algo que acontece somente aos outros e, não com eles.

Assim, Leon Tostói, em sua obra A morte de Ivan Ilittch, apresenta essa questão: “O exemplo de silogismo que aprendera no compêndio de lógica: Caio é um homem. Os homens são mortais. Logo, Caio é mortal! – sempre lhe parecera exatamente em relação a Caio, jamais em relação a ele. […] Caio é de fato mortal e, portanto, é justo que morra, mas quanto a mim…”.

Essa reivindicação de viver para sempre e a consequente angústia diante da morte não é dissolvida pela pesquisa acadêmica com instrumentos e categorias científicas.

Não basta racionalmente afirmar que essa é uma contingência humana, orgânica, biológica e mesmo existencial para elucidar a questão, visto que a tragicidade da morte está vinculada à própria constituição antropológica: o ser humano é ordenado para a vida, e a morte nega essa que é sua destinação primordial. O homem é um ser em constante construção que aprende com as experiências acumuladas ao longo da vida; o paradoxo é que quanto mais vive, mais especializado e preparado para viver ele está e, na mesma proporção, mais se afasta da vida e vai de encontro à morte. Tal realidade pode ser desesperadora, consoante a significação que a pessoa der ao existir; a perda de sentido de vida leva à falta de sentido na morte.

Aquele que é considerado o pai da química moderna, Antoine Lavoisier, na metade do século XVIII, já afirmou: “Na natureza, nada se perde, nada se cria, tudo se transforma”. A vida, em todos os seus aspectos, está incluída nesta máxima.

Mais que uma constatação, é lei: todos morrerão! Em virtude de a morte ser um fato não facultativo, deve o homem encarar esta realidade e, no momento em que o evento acontecer, fazer dele um ato de liberdade através do qual mergulhará ao encontro de sua plenificação antropológica. Sem medo, pois a condição de imortalidade garante a sobrevivência da vida, e sem amarras, pois a transcendência desde sempre convive em sua imanência e agora a absorve e leva à sua consumação.

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Sonia Sirtoli Färber
Teóloga. Tanatóloga.
Professora da Faculdade Missioneira do Paraná – FAMIPAR
clafarber@uol.com.br
www.famipar.edu.br
www.tanatologia.zip.net