Treinamento para Profissionais de Saúde
Curso Ensina a Trabalhar com os Aspectos da Morte
Discutir o fenômeno da morte e os aspectos psicológicos em relação a perdas e separações. Este é o objetivo do curso que está sendo ministrado no Centro de Tanatologia e Psicologia, localizado à Av. Desembargador Moreira, 2001 – sala 1102, no Edifício Talent Center, pelo psicólogo Aroldo Escudeiro. Direcionado a profissionais da área de saúde, a idéia básica é fazer com que as pessoas aprendam a lidar com essa situação e assim aproveitem melhor suas vidas.
Para Escudeiro, o tabu em relação a morte ainda é muito presente, principalmente na cultura ocidental, e isso dificulta sua assimilação. Essa dificuldade implica na própria vivência do dia a dia das pessoas, já que por não se dar conta da finitude, os indivíduos deixam de aproveitar os bons momentos da vida.
O psicólogo explica que a Tanatologia, ciência que estuda a teoria da morte, considera que pensar na finitude é pensar em um fenômeno pessoal e social, portanto histórico. Para exemplificar, ele lembra que, a presença da morte na vida do homem sempre foi acompanhada de ritos, desde o tempo do homem de Neanderthal.
Antepassados
Escudeiro diz que a visão em relação a morte a partir de nossos antepassados, obedece a variações culturais. Entre os séculos V e XVII, predominou o que os estudiosos chamam de “morte domada”. Seria aquela em que não se apoderava do homem, pois este mantinha uma atitude de resignação para com a mesma. “Nem todas as pessoas possuíam clarividência, mas sabiam que iam morrer e faziam previsões sobre a própria morte”.
Ao fim do século XVII e começo do XVIII, o medo de ser enterrado vivo e não mais retornar, influenciado por vasta literatura e o próprio folclore, gerou a chamada “morte aparente”. Já a mentalidade predominante no final do século XIX, por conta da onda do romantismo, surge a idéia da morte sublime e romântica, predominando até de certa forma uma insensibilidade para com o fato.
O século XX, através da inversão de costumes, entre o campo e a urbanidade, aponta para a transferência da morte para o ambiente hospitalar. Por conta disso surge a “morte solitária”, com a predominância de uma atitude de luto, onde as crianças são afastadas dos velórios. Cria-se a noção de uma morte descontextualizada.
Abordagem
Hoje, diz Escudeiro, “o medo de perder as coisas e o apego exagerado ao consumo, torna o homem cada dia mais distante da idéia de trabalhar sua própria morte”. Não estão a salvo nem os profissionais que lidam diretamente com o fato, como trabalhadores em áreas de saúde. Por conta disso é que curso está sendo ministrado, em primeiro momento, a profissionais dessas áreas.
Realizado em dois meses, o curso utiliza dois módulos, abordando a parte teórica e a prática. Esta última através de dinâmicas de grupo, colagem e dramatização. O trabalho já foi feito com estudantes, e a avaliação de Escudeiro é que os participantes sentiram que quanto mais se entra em contato com a morte, valoriza-se os pequenos instantes da vida. “Nossa proposta tem como base o crescimento pessoal”, afirma.
Após o curso ministrado a profissionais de saúde, Aroldo partirá para a formação de grupos terapêuticos com a participação de outros profissionais. Para tanto os profissionais já podem contatar com o Centro de Tanatologia e Psicologia. Além das aulas, os participantes podem usufruir de bibliografia sobre o tema existente no próprio local.
Fonte: Diário do Nordeste, Fortaleza, Ceará – Domingo, 24 de março de 1996.